DE VOLTA AO LAR



Então aquela era a cidade onde havia nascido, crescido, vivido a adolescência e saído de lá assim que pôde, assim que sua cabeça conheceu sonhos e esperanças?

Mas aquela não era mais a cidade que havia abandonado por ser tão pequena, tão fechada ao mundo, tão indiferente aos gritos de todos os rebeldes, ou mesmo de todos os inconformados, ou mesmo de todos os desajeitados.

Não, aquela não era mais a cidade onde os passarinhos se misturavam às folhas das árvores e as folhas das árvores caíam no chão da praça e formavam um tapete mágico que levantava voo com o vento, o vento das noites, o vento das manhãs, o vento das tardes, as frias tardes, as frias manhãs, as frias noites.

E se tudo estava mudado, por que tudo parecia igual?

E por que a solidão da solitária estátua do benfeitor dos pobres, do defensor dos miseráveis, estava ainda mais sozinha no meio daquela praça devastada pela indiferença e arruinada pelo desprezo?

Passou os olhos pela paisagem daquela cidade que um dia foi sua, daquele seu lar que o aqueceu por muitos invernos, e por fim, depois de vislumbrar nas sombras dos postes e na geometria das esquinas um resquício de saudade, achou a resposta para o mistério da transformação:

- Está tudo igual a antes. Quem mudou fui eu.

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