Lá na esquina vi o louco que proclama o fim do mundo.
Estava vestido como um marechal emplumado
e carregava um revólver de brinquedo, um apito de lata
e um urinol cheio de páginas de um resto de Bíblia.
Vi também naquele espaço onde se cruzam incertezas
perenes, sonâmbulos desatinados e pobres de espírito
alguém gritar "pega ladrão", "chamem a polícia"
e outras tolices ultrapassadas por estes tempos de ódio.
Vi mesmo o ladrão correr no sentido contrário ao vento
e ir de encontro à fatalidade dos trombadinhas minúsculos,
larápios mequetrefes e reles punguistas:
o esboroar-se à vista da autoridade de uniforme cáqui e
quepe solene tal qual a ponta de uma vara justiceira.
Vi o ladrão se curvar sob o peso de pancadas e gritos
e o louco implorar perdão pelos pecados de todos.
Não vi mais porque no bar da esquina a TV nos
mandava calar a boca e obedecer a ordem do dia.
Era de tarde, estava frio, carros passavam indiferentes
a qualquer desvio de sua rota de volta ao covil.
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