HOMENS E BEBÊS


Fingia que não se importava com os xingamentos, os terríveis palavrões, as ameaças de todo tipo, e até mesmo as fracas agressões que recebia do frágil corpo daquele homem, o seu paciente, sua fonte de renda exclusiva depois que foi demitida da Casas Bahia.

Havia investido uma boa parte do que recebera pela dispensa num curso de cuidadora de idosos. 

Achava que levava jeito para a coisa, gostava de crianças e velhinhos, sentia orgulho em dizer que esteve presente, dia e noite, no último ano de vida de seu pai.

Mas nunca esperara ter de cuidar de alguém como aquele homem, alma ruim.

Era só ajudá-lo a se levantar da cama, ou da poltrona, ou dar comida a ele, ou despi-lo para tomar banho, ou, enfim, fazer qualquer coisa que uma cuidadora tem de fazer com seu paciente, que ele se transformava, virava um demônio.

- Filha da puta! Vai embora, você é horrível!

Era uma agonia.

E não adiantava reclamar com a filha daquele homem:

- Não ligue, ele não fala por mal, isso é da doença.

Quando chegava em casa, chorava de nervosa.

Até que um dia percebeu que se continuasse com aquele homem iria ficar doente - nem dormia direito mais.

Pediu a conta.

E resolveu tentar um novo ofício: foi ser babá.

- As crianças choram, mas não dizem palavrão. De resto, aprendi a fazer quase tudo que um bebê precisa: dou comida, banho, troco a fralda... - explicou para a vizinha, sua boa amiga.

Foi, enfim, feliz.

Um comentário:

Julia disse...

Cara, tá aí, uma coisa que não suporto é palavrão.