ZÁS-TRÁS



Era pretinho, ficava nos cantos quieto, medroso, à espera da oportunidade, à mercê do desejo, da fome, os olhos brilhando como tições, o nariz caçando odores, a língua uma lixa seca, as garras recolhidas, prontas para virar punhais.
Era pequeno, pretinho, quieto.
Nos cantos, quieto.
Até que um descuidado pardal desceu do galho e foi, inocente, bicar um pedacinho de pão mal varrido perto da porta da cozinha.
Bastou um segundo.
Um zás, um trás, um pulo no pátio inundado de sol.
E foi o bote de uma pantera, negra, imponente, inundada de sol.
Era pretinho, quieto, pequeno.



Nenhum comentário: