SEQUESTRO POR TELEFONE


- Alô, é o Celso? Quero falar com o Celso.
-É ele, pode falar.
- O senhor ama a sua filha?
- Não tenho filha.
- Mas o senhor ama a sua filha?
- Já falei que não tenho filha.
- Ah, não? Mas, bem, o senhor ama a sua mulher?
- Claro, estou casado com ela há 20 anos.
- E não tem filha?
- Nem filho. E daí? Afinal, o que o senhor quer?
- É sobre a sua mulher...
- O que tem a minha mulher?
- O senhor ama a sua mulher?
- O senhor já me perguntou isso.
- É que nós estamos com a sua mulher.
- Nós quem?
- Ah, isso eu não posso falar.
- Então vou ter de desligar. Não sei quem é o senhor nem o que quer.
- É sobre a sua mulher...
- Mas que é que tem a minha mulher?
- Nós estamos com ela e se o senhor a ama...
- Mas que raio de história é essa de eu amar a minha mulher?
- Não, veja, se o senhor a ama... É que nós estamos com ela...
- E daí? Ela pode ficar com quem quiser. É minha mulher, mas pouco me importa quem são seus amigos.
- Mas nós não somos amigos dela.
- E não me importa quem são seus inimigos.
- É que estamos com sua mulher e se o senhor a ama e a quiser de volta, vai ter de pagar para nós dez mil reais.
- Pagar para ter a minha mulher de volta? Mas o que é isso?
- O senhor não entendeu? Nós seqüestramos a sua mulher e se o senhor quiser ter ela de volta, vai ter de pagar...
- Dez mil reais? A minha mulher vale dez mil reais? Nem eu valho isso.
- Bom, pode ser menos. Oito mil.
- Nem cinco, nem mil. Para que eu vou querer pagar pela minha mulher? Pago todo dia para ela. Quem é que trabalha aqui nesta casa? É ela? Não senhor, sou eu. Ela só sabe gastar.
- Mas se o senhor ama a sua mulher, vai ter de pagar.
- O senhor respeite a minha mulher. Pagar uma ova. O senhor acha que ela é uma prostituta?
- Não, não disse isso. Só que queremos dez, não, cinco mil reais para soltar a sua mulher, senão...
- O quê? Soltar? Como? Ela está presa? Aprontou alguma? Roubou, matou? Bateu o carro? Estava bêbada?
- Não, não... É que nós a seqüestramos...
- E ela não fez nada? Ficou quieta? Como foi isso? Quero falar com ela agora para resolver esse assunto. Passe já o telefone para ela.
- Mas não é assim que funciona. Não posso deixar o senhor falar com ela. Mas ela está bem.
- Mas é claro que está bem. Não trabalha, gasta o meu dinheiro, vive fofocando com as amigas, não limpa a casa, cozinha com uma má vontade que dá dó e o senhor queria que ela estivesse doente? Que estivesse Cansada? Claro que não. Está é gorda, desmazelada.
- Então, se o senhor quiser que ela volte, vai ter de pagar cinco mil...
- De novo? Como vou ter pagar para ter a minha mulher? Isso é um absurdo! Nem um centavo, nada.
- Mas se o senhor não pagar, nós vamos ter de dar um sumiço nela.
- Como se isso fosse fácil... O senhor diz isso porque não conhece a minha mulher. O senhor não acha que eu já quis sumir com ela umas mil vezes? E sabe o que consegui? Sabe? Ela não larga mais do meu pé, só vive para me encher, faça isso, faça aquilo, não coma isso, não beba aquilo... Um inferno.
- E como nós vamos resolver o assunto?
- Por mim está resolvido. Se o senhor sumir com ela será ótimo para mim que fico livre dela e não gasto mais nada.
- Mas assim nós vamos ficar no prejuízo.
- E eu que estou faz 20 anos no prejuízo? Isso não conta?
- Mas não está certo, não é assim que funciona. O senhor tem de pagar.
- Não pago e além disso mando a conta do que ela gastou este mês com o meu cartão de crédito para o senhor. Qual é o seu endereço, por favor?
- O meu ende... O senhor está louco?
- Faz tempo que estou, casado com essa mulher qualquer um fica louco. O endereço, o CIC e o RG, por favor que eu não quero mais perder meu tempo.
- Não vou dar endereço nem nada. O senhor não sabe que esse negócio de passar números pelo telefone para estranhos é perigoso, que está cheio de malandro e vigarista por aí?
- Se é assim, então vou ter de desligar.
- Tá bom, então até logo.
- Passe bem. E diga para minha mulher vir logo para casa.
- Pode deixar. Será um prazer. Um bom dia para o senhor.

- E para o senhor também.
Fim da ligação.




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