É CAMPEÃO!

- E goool!!!
Batido o último e definitivo pênalti, Romualdo gritou, pulou, cantou e saiu do estádio com a multidão de torcedores inebriados.
Entrou no carro, engatou a primeira, a segunda, a terceira e quando viu, estava no meio do trânsito buzinando e buzinando ao ritmo do "é campeão!" que ouvia dos alucinados passantes vestindo a camisa branco e preta de seu time, seu amor, sua vida.
Mas a comemoração não podia parar aí. Precisava de mais, muito mais. Quando viu o quarteto de colegas do trabalho sambando na calçada, não teve dúvida, quase os atropelou para depois convidá-los:
- Vamos beber que o Timão merece!
E foram os cinco para o boteco mais perto que encontraram. Nada de cerveja, nem cachaça. Uísque à vontade.
Depois de deixar os quatro no ponto de ônibus, calibrado por cinco doses de Passport, seguiu para casa, ainda buzinando.
Largou o carro na rua mesmo. Pulou a mureta do jardim, abriu a porta sabe-se lá como e se jogou no sofá.
Sentiu um calor repentino correr o corpo inteiro. Levantou e abriu a janela da sala. Respirou o ar frio da madrugada uma, duas, três, várias vezes. A cabeça girava, o estômago começava a embrulhar, mas mesmo assim encheu o pulmão e gritou, com toda a força que tinha:
- Campeão! É campeão!
Ao silêncio que se seguiu, dois cachorros latiram, um gato miou e, antes que fechasse a janela e caísse no carpete sujo da sala, ouviu o vizinho da frente protestar:
- Corintiano filho da puta! Deixa a gente dormir!

Nenhum comentário: