Zoológico

O leão dormia ao sol e pouco se importava com as moscas à sua volta.
As girafas olhavam para as nuvens, cansadas de ter os pés no chão.
O gorila descascava a banana como um experiente gourmet.
O hipopótamo escancarava o sorriso de dentes enormes.
O elefante balançava a tromba e abria caminho para toneladas de indiferença.
Patos, gansos, marrecos e cisnes velejavam barulhentos por águas mansas.
Macacos-pregos se mostravam os trapezistas ideais daquele circo mágico.
No caminho de casa, dentro do ônibus cheio, olhou o cobrador suado, a grávida e seus pesados pacotes, os três moleques tatuados, o evangélico estrábico, o anão de óculos escuros e tentou encontrar neles a placidez do leão, a altivez da girafa, a imponência do gorila, a força do hipopótamo, a sabedoria do elefante, a suavidade dos cisnes e seus primos pobres ou a esperteza congênita dos macacos.
Achou apenas gente igual a ele. Sem cores nem qualidades.
Naquela noite um cão latiu, um gato miou e ele sonhou que estava atrás das grades de uma jaula do tamanho do mundo.
Acordou e teve de contar carneiros para dormir de novo.

Nenhum comentário: