No escurinho

Sessão da tarde, cinema quase vazio.
- Ai! Você é muito abusado! Quem te deu licença?
- E você é muito careta. Deixa, vá, só um pouquinho...
Um grito de pavor. Um corpo caindo pela escada (o filme é de terror).
- Quero pipoca.
- Vou comprar.
Uma faca rasga o pescoço da linda loirinha de calças jeans. Ela tomba. O sangue esguicha.
- Você trouxe refrigerante?
- Ah, não! Que saco, como ia saber que você queria?
- Pipoca sem refrigerante não tem graça.
- Então espera que vou pegar.
No longo corredor surge um vulto, o garoto tropeça num corpo, corre em direção a uma porta semi-aberta. Entra ...
- Não gosto de guaraná. Não tinha coca?
- Não, só tinha pepsi.
- Então tá.
- Agora deixa eu pegar na sua mão...
- Depois, não vê que estou comendo pipoca?
Noite. Um lago ao luar. Uma silhueta indefinida no ancoradouro puxa um pequeno barco. Corte. Um tiro, um clarão, um grito. A sombra cai n'água. - Me dá um beijo.
- Tô com a boca cheia.
- Vê se come logo. Tô com uma vontade...
O sol aparece no horizonte, entre montanhas. A câmera passeia e encontra o casal deitado à beira do lago. Lentamente, o rapaz se levanta e tenta acordar sua companheira. Ela também se levanta. Os dois se olham e depois se beijam. Um piano toca uma melodia romântica.
- Filme mais bobo. Nem tive medo.
- Não prestei atenção.
- Claro, ficou me agarrando...
- Vamos ver de novo?
- Só se desta vez você me comprar uma coca.
- E se só tiver pepsi?
- Serve, mas bem gelada.
- Tudo bem, mas quero um beijinho.
- Deixa começar o filme. No escurinho é bem melhor.
The end.

Um comentário:

Fátima Santos disse...

passei para encontrar quem escreve!:)