Álbum de fotografias


Baixinha, gordinha, meio vesga.
- Põe salto alto, vestido longo engana, não usa calça apertada nem roupa listrada.
Conselho se fosse bom não era de graça.
Fazia tudo ao contrário.Tinha seus encantos, ah, se tinha.
Ligou para o estúdio.
Sessão marcada, tomou táxi com ar-condicionado para não estragar a maquiagem.
- Quero posar nua - avisou.
Clique, clique, clique, de frente, de lado, deitada, em pé, boquinha fechada não entra mosquito, faz pose de vampira, de menininha, de puta. - Passa na terça que tá pronto.
Ai que foi difícil dormir de nervoso. As horas não andam, será que fiquei linda?
- Taí o seu álbum. Fiz o que pude. Melhor impossível.
Coração disparado, voou para a quitinete.
Era coisa de novela. De dar inveja. Para olhar toda noite.
Foto por foto, detalhe por detalhe.
Como a borboleta que tinha sumido do seio esquerdo e havia voado para o braço que não tinha mais a marca da vacina e estava mais fino que aquele refletido no espelho do guarda-roupa comprado em 24 prestações.
Chorou tanto que as lágrimas lavaram todas as mentiras expostas naquele álbum de fotografias.
Aí então viu que estava nua de verdade.

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