Prosa e verso para o amor eterno

Jurou por todos os santos que aquela era a mulher da sua vida.
Cortou o cabelo, aparou a barba, fez manicure. Gargarejou malvona para tirar o mau hálito. Treinou falar sem usar palavrão.
Mas o primeiro encontro foi um desastre. Nem lembrou de abrir a porta do fusqueta para a deusa. Viu que aquele pedaço tinha se magoado. Prometeu se emendar.
O segundo encontro foi melhor. A bonequinha adorou o maço de rosas brancas que entregou assim que a viu no jardinzinho da casa amarelo-pálido.
O terceiro encontro não aconteceu.
Se encantou por outra, essa sim pra todo sempre, tão loira que se confundia com suas manhãs tropicais de sol.
Mandou lavar o fusca, borrifou perfume até o cheiro do cigarro desaparecer, caprichou pra disfarçar o sotaque do interior que carregava forrrte.
Mas sabia que haveria um segundo encontro melhor que o primeiro, quando tudo correu bem até que escorregou nos errres e - foi mal, muito mal meu chapa!
Paixão que dura só um tanque de gasolina não é pra sempre.
Conheceu a mulher de seus tormentos logo a seguir.
O que era prosa virou poesia, de pé quebrado, uma porcaria.
Caiu de quatro, babou-se todo
feito um bobão.
E ela firme, não e não e não.
Passou a freqüentar terreiro,
fez promessa pra santo antonio casamenteiro,
tudo em vão.
O fusca quebrou, sobrou o buzão.
Ficou difícil, a mulher de sua vida
virou uma canção.
Um samba-canção, um bolero,
um roqueanderrou sem harmonia,
sem melodia e sem refrão.
Sobrou a rima,
perdeu o tesão.

Nenhum comentário: