AMANHÃ É SOMENTE HOJE COM OUTRO NOME


Que amanhã caiam as asas dos passarinhos
e os aviões se espatifem no chão;

que amanhã as sirenes das fábricas gritem uivos
alucinados de medo e terror
e as paredes das fábricas desabem e estilhacem
os tímpanos dos chefes de repartição;

que amanhã os carros engatem marcha-a-ré
e trombem uns nos outros numa infinita balbúrdia
e os sinais de trânsito desafiem a lógica
e deem passagem a todos, mesmo os carroceiros
miseráveis e seus cães sarnentos;

que amanhã o céu se esconda sob a mais negra
nuvem de fuligem, poeira e vergonha
e o sol desapareça de vez e vá iluminar outros planetas;
que amanhã o almoço seja parco e pobre como
o mais miserável grão infecundo que a terra 
nos proporciona - a nós, os miseráveis! -;

que amanhã seja um dia como todos os dias que
se sucedem neste país sem esperança e riso,
sem outros dias a embalar os sonhos 
e sem despertar as ilusões e ver triunfar os gênios;
porque amanhã não existe,
amanhã é uma quimera,
amanhã é somente hoje com outro nome.

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