A PAZ DE ESPÍRITO


O pequeno telefone celular tocou.
Não uma, mas duas, três vezes.
Aquele som estridente da campainha que ele não soube escolher.
Depois parou.
Foi só então que tomou coragem para ver o número.
Um número desconhecido.
Quem seria?
Quem teria sido tão insistente para ligar três vezes em seguida?
Procurou esquecer o assunto.
Mas não pôde, porque o telefone gritou novamente por ele.
Alto.
Forte.
Até se calar.
O coração disparado, a mão tremendo, a boca seca, os sinais do pânico.
O silêncio.
O pequeno telefone jogado na mesa, um objeto como qualquer outro, porém capaz de provocar o terror, minúsculo demônio.
Não pensou.
Agiu por instinto, como as bestas.
E só depois de ouvir aquele inconfundível CRAC que fez o monstro ao se despedaçar sob os seus pesados e duros sapatos é que pôde reencontrar a paz de espírito intensamente almejada desde sempre.
Desde que havia comprado, em seis suaves prestações, aquele aparelhinho que lhe prometia o paraíso.