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Nunca se destacou em nada. Ou quase - era mestre em uma apenas coisa, bajular.
Fazia isso de forma sutil, quase com indiferença. O alvo nem desconfiava que estava sendo manipulado.
Anos e anos de notável persistência nessa requintada arte do puxa-saquismo fizeram dele um respeitável membro da comunidade, um destacado chefe de seção na firma que o acolheu como a um parente querido.
Dizia a si mesmo, nessa altura da vida em que os cabelos começam a branquear, que tivera sucesso.
Sua mulher era apática e insossa, mas lhe deu dois filhos, orgulho e prova de que o caminho que escolhera fora o correto.
Certo dia, recebeu um telefonema da diretora da escola dos meninos.
- Preciso falar com o sr. - ela disse. É sobre o Joãozinho.
O Joãozinho era o filho mais novo.
Na abafada sala da diretora, cumprimento feito - "Espero que a sra. e sua família estejam bem... Estou às suas ordens..." - sentou-se.
A diretora foi curta e grossa:
- Seu filho está tendo um comportamento abominável. Suas notas são medíocres, o sr. deve saber. Talvez por isso é que todo dia ele traz um presente qualquer, uma bobagem, um docinho de leite, um pacote de salgadinhos, para a professora. Foi ela que me alertou disso, já está incomodada. É quase um bullying.
Se fez de surpreso, prometeu falar com o filho, pediu desculpas, só faltou chorar.
Em casa, chamou o Joãozinho. Tascou um beijo na testa, disse que ia aumentar a mesada e por fim deu um conselho que o garoto levou pela vida afora:
- Puxar o saco não é para qualquer um, meu filho. Mas você é novo, tem tudo para aprender. Com o dinheiro que eu dei, vê se compra uma caixa de chocolate para a professora. E leve uma rosa a ela. Mulher gosta de flor.
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