É CARNAVAL



O bloco já havia se dispersado. Não restava mais ninguém, além daquele folião amargurado, naquela rua esquecida nos confins do mundo.

Sim, porque aquele bairro, aquelas casas humildes, aquela cidadezinha perdida no interior do interior, era quase o fim do mundo.

Mas isso não importava. Era Carnaval e todo mundo deveria estar alegre.

Até o latido do cachorro na meia-noite e meia de poucas estrelas no céu parecia ter um som diferente, como se ele também soubesse que era Carnaval e não poderia estar triste - a tristeza não era permitida no Carnaval, mesmo no Carnaval do quase fim do mundo.

Ao latido do cachorro seguiu-se um silêncio que fez o folião solitário sentir uma pontada de melancolia.

Afinal, onde estavam os outros, os amigos da cerveja, da música, da dança, dos beijos sem compromisso, onde foram parar os amigos do Carnaval?

O bloco havia se dispersado e só restava naquela rua escondida que não levava a lugar nenhum um pierrô inconformado com a alegria e prestes a se afogar na tristeza.

Um pierrô náufrago de um Carnaval morto.

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