![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJOgiAINXJdChzbIauNeS5uD6g6MUO-HZIkieSLyD0je6TRn7-ec60kDCqqzeY0GiMhV8XII46v91qYW2m8Xi6hQepmrnsMe21ELtXnSu4jFcYg5F28039rv_lgA7WvdnhBzw-K5UJsWg/s400/filadebanco.jpg)
Na verdade, um só: o outro era para idosos e gestantes. A atendente lixava as unhas, sem mais nada para fazer.
Com a cabeça pesada, os pés inchados, o suor escorrendo do rosto e manchando a camisa, as costas doendo, achou que não ia aguentar.
Saiu da fila, virou à esquerda e, ao avistar dois rapazes batendo papo em suas mesas, perguntou, com o que restava de suas forças:
- Por favor, quem é o gerente da agência?
Um deles se dignou a olhar aquela triste figura e respondeu, com uma voz fininha, chata e petulante:
- O gerente está almoçando. Volta só às 14 horas.
Seu relógio marcava meio-dia e vinte. Definitivamente, não ia conseguir esperá-lo.
Arriscou uma reclamação:
- Quer dizer que não tem ninguém que possa dar ordem para abrir mais caixas? Olha só o tamanho da fila...
Aí foi a vez do outro rapaz. Voz mais grossa e entonação ainda monótona, arrogante:
- O senhor não vê que estamos em horário de almoço?
E virou as costas para continuar a conversa.
Foi o que bastou para que Luís Carlos Almeida de Souza, que todos de sua vizinhança e do seu trabalho conheciam como Luisinho, um sujeito pacato que só saía do sério quando o Santos perdia e os amigos resolviam lembrá-lo do vexame, esquecesse das lições de sua mãe sobre como era feio falar palavrão - e da surra que levou certa vez de seu pai por ter dito que aquela novela da Globo que o impedia de ver um superfilme de bangue-bangue na Record era uma "merda".
Bem, isso havia ocorrido muito tempo atrás.
Naquela agência bancária pequena, abafada e calorenta, ele não repetiu, para todos os que ali estavam, aquelas bobagens de criança.
Para um adulto como ele, vivido, cada vez mais cansado e dolorido, "merda" era pouco.
As sete pragas do Egito saíram de sua boca como uma tormenta, um vendaval, um maremoto, um furacão - como a lava de mil vulcões, as chamas do inferno.
As contas da luz, da água e do telefone iam atrasar de novo.
Besteira.
Valia mais aquela estranha sensação que o abrigou no resto do dia. Algo tão forte que até sua mulher, geralmente tão alheia à sua intimidade, reparou:
Nenhum comentário:
Postar um comentário