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Quando a professora quis saber quem havia soltado aquele peido estereofônico, foi o primeiro a dizer:
- Não fui eu. Foi o Zezinho.
E apontou o magricela com seu indicador pequeno e raquítico, duro e incisivo.
Ao episódio sonoro sucederam-se outros, de vários tipos e único gênero.
Certa vez falou para o pai que a Inezinha, sua irmã, passava no shopping as tardes em que deveria estar estudando.
Noutra ocasião contou para a mãe que viu o pai parar o carro na esquina e dar carona para a Betinha, a moça loira e bonita do terceiro andar.
Acostumou-se com a delação.
Fez dela um estilo de vida - cômodo, prático, eficaz.
Degrau a degrau, escalou metodicamente posições que o levaram a ser tudo o que sempre quis: viver a tranquilidade dos sem-consciência.
Era apontado pelos vizinhos como modelo a ser seguido.
Só uma vez teve as convicções abaladas.
O filho, adolescente quieto, chegou em casa com a cara inchada, a orelha amassada, o olho fechado.
- Fala quem foi que fez isso, fala de uma vez!
E o garoto quieto.
- Fala que eu entrego esse filho da puta pra polícia!
E nada, nadinha de nada, nem uma palavra.
Nunca entendeu a razão do silêncio, nem soube de nome nenhum.
Mas sempre quis apontar o filho para todos e gritar, o coração explodindo de orgulho:
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