Torcedor

O jogo acabara fazia muito tempo. Ele estava sozinho, sentado na arquibancada, a cabeça entre as mãos. Se alguém estivesse ao seu lado, veria que chorava baixinho.
As luzes dos refletores foram se apagando aos poucos, a grama sumia devagarinho, e ele não se movia.
Um ambulante que ia embora quase trombou com aquela figura minúscula.
– Ei, cê tá bom?
Ele levantou a cabeça, os olhos molhados de lágrimas, uma expressão de bobo.
Uma careta apareceu na face e ele percebeu que não estava sozinho.
– Hã, não, não sei, estava vendo o jogo... Quanto foi?
– Tá de gozação? Goleada. Perdemos feio.
Goleada... Tomamos uma goleada... E agora, meu Deus, o que vou fazer?
– Bom, posso ajudar a levar você pra fora. Cê tem certeza que tá bem?
– E quem marcou? Foi muito fácil pra eles?
Apoiado no ambulante, desceu os degraus, cambaleando. Já na rua, olhou para o estádio às suas costas diminuindo de tamanho e seguiu pela noite. Seus lábios se mexiam e só os insetos ouviam a frase que repetia sem parar:
Goleada, levamos uma goleada... E agora, o que vou fazer?

Nenhum comentário: