NA PRAÇA



Era impossível alguém não notar a figura alta, magra, suja, repulsiva até, que andava de um lado para outro na praça, os braços se abrindo e fechando, a boca se mexendo, tentando formar palavras, frases, sons vagamente humanos.
E quando se aproximava de alguém e estendia a mão, parecia que quase não pertencia mais a este mundo.
- Passa fora, vagabundo - dizia o homem de terno escuro que carregava uma maleta.
- Não tem polícia em lugar nenhum desta cidade - reclamava a senhora bem vestida que apressava o passo.
- Mãe, ele tá bêbado? - perguntava o menino à bonita jovem de calça justa que o levava pela mão.
Um cachorro preto e feio acompanhava o pedinte. 
Língua de fora, seguia o mendigo por todo o lado. 
Até mesmo quando ele se sentou, talvez cansado, talvez apenas para esperar que um improvável sol viesse esquentá-lo naquela manhã.
Foi quando o animal se assustou com a buzina estridente de um enorme caminhão betoneira que tentava desviar de um minúsculo e inacreditável Fiat 147 que furou o semáforo vermelho.
O bicho disparou pelo gramado mal cuidado, passou por entre os carros estacionados, e o que se ouviu depois foi um só um ganido, um lancinante e doloroso uivo.
Ninguém na praça ficou indiferente. 
Todos correram para ver o que havia acontecido.
Assim, não perceberam quando aquela aberração vestida em trapos se levantou do banco e correu para longe da praça, para longe do mundo.
A boca se mexendo, as lágrimas escorrendo pelo rosto abaixo, grossas, salgadas.



Nenhum comentário: