TRINTA ANOS DEPOIS



Não via o Beto fazia mais de 30 anos, desde que haviam completado o colégio - naquele tempo era assim que o segundo grau se chamava.
Mas se lembrava bem daquela manhã em que, defronte de mais de 40 moleques como eles - e algumas meninas também - trocaram sopapos na saída da escola. 
Levou um soco no nariz, que sangrou, mas ficou com a certeza de que acertou uns bons murros na cabeça do Beto, que, por ser maior que ele, permaneceu inabalado, como se não tivesse sentido nada.
Agora, olhava em volta, naquele salão meio escuro do bufê de festas onde a turma de 1981 do Instituto de Educação resolveu fazer o seu primeiro encontro tanto tempo depois, sabe-se lá por quê, preocupado em reconhecer o desafeto de uma adolescência desvanecida e de poucas boas lembranças.
O crachá espetado na camiseta fez com que muitos viessem cumprimentá-lo. Lembrava-se de alguns, outros eram meros nomes perdidos e sem importância.
Até que alguém bateu em seu ombro:
- E aí, cara? Mudei tanto assim?
Sim, tinha mudado. Estava mais gordo, quase careca, mas certamente era aquele Beto falastrão e metido a besta que o irritava na classe, no recreio, onde estivesse. 
Os dois se abraçaram.  
Mais gente chegou, o bufê foi ficando cheio, Beto pediu desculpas e disse que estava com pressa, tinha outro compromisso. Antes de ir embora, porém, puxou-o de lado:
- Sabe, naquele dia da briga? Pois é, aguentei firme, mas a minha cabeça doeu pra caramba. Se não tivessem parado a gente...
E foi embora, apertando mãos e abraçando quem via no caminho.