FORA DO RITMO



Escolheu o cavaquinho porque tinha duas cordas a menos que o violão e, assim, poderia bastar para a música simples que pretendia tocar.
Mas logo percebeu que quatro cordas ainda eram demais.
Trocou o instrumento por uma insignificante caixinha de fósforos, que passou a batucar a toda hora.
Nem isso deu certo, pois saía facilmente do ritmo.
A vida não fluía como uma valsa, naquele três por três hipnótico e repousante.
Ao contrário, mudava de tempo sem avisar, acelerava, diminuía, tinha longas pausas e explosões súbitas.
Era imprevisível.
Então jogou fora a caixinha, torrou as economias num belo fraque e foi visto, pela última vez, com o braço direito erguido, aquele braço raquítico, a sustentar uma elegante batuta na tentativa inútil de pôr ordem no caótico trânsito da avenida onde morava.